Arquitectar 09

arquitectar uma casa sustentável

O conceito partiu do estudo da tipologia, ao desenvolvermos o organigrama funcional do programa percebemos que se trabalhássemos cada compartimento como um volume individual, como uma construção autónoma, poderíamos ter diversas vantagens quer do ponto de vista da organização espacial quer do ponto de vista da sustentabilidade. Ao articularmos os diversos volumes, não precisarmos de corredores para se circular entre eles, surge uma fluidez espacial natural, e criam se pátios  resultantes dos volumes  estarem afastados entre si.
Os pátios tem um papel extremamente forte na relação entre o habitar, o estar e a relação com a natureza, com o exterior e com o mar. Durante todo o ano podem ser utilizados como espaços de estar, de contemplar a vista de mar, no inverno fechados criam um clima confortável, no verão abertos e protegidos do sol um espaço mais fresco que a temperatura exterior, desta forma conforme a estação podem ser considerados espaços tanto interiores como exteriores, tem um papel activo e funcional durante todas as estações.
A nível da sustentabilidade os pátios no  inverno funcionam como estufas aquecendo os espaços adjacentes, no verão pelo processo inverso, as coberturas de vidro dos pátios são protegidas pelos sombreamentos exteriores, as portas de vidro abrem-se e passam a ser espaços exteriores arrefecendo o ar antes de entrar no interior. Os pátios funcionam sempre como uma espaço intermédio entre o interior e o exterior, com um clima próprio, que no inverno aquece o ar antes de entrar e no verão arrefece.
A solução de cada compartimento ser um volume autónomo, aumenta as perdas pela envolvente pois existe mais superficies exteriores do que se os compartimentos estivessem contíguos, mas com os pátios essas perdas deixam de existir, passam a ser pelo contrario zonas de ganhos em vez de perdas.
Do ponto de vista formal, cada volume tem a forma de uma casa que ligadas entre si pelos pátios formam uma espécie de uma “vila”. Esse carácter de “casa” que acompanha cada compartimento foi desenvolvido de uma forma mais orgânica, para se relacionar com a paisagem de uma forma mais natural. As cumeeiras das coberturas deixam de ser tradicionalmente perpendiculares aos extremos de cada volume para se relacionarem entre as varias cumeeiras dos volumes que compõem a casa. Cada “casa” cria uma relação individual, cada uma tem a sua identidade própria com o exterior e com o interior, dai a ideia de vila, funcionam autonomamente na sua relação com a natureza, com o mar, e com os pátios e como se articulam entre si, funcionam como uma unidade de conjunto.
A forma da “casa” tradicional traz-nos referências da casa tradicional que conhecemos, a unidade de conjunto leva a proposta a uma linguagem contemporânea, a um formalismo orgânico que se adapta à relação do sitio, das rochas que se misturam com o espaço verde da costa minhota que se estende até ao mar.
A forma dos volumes com telhados inclinados proporciona espaços amplos no interior, incrementando a qualidade do ar interior, permitindo que o ar saturado suba mais alto e se misture com mais ar, atenuando as toxinas nele existentes.
A qualidade espacial também é incrementada, os espaços interiores amplos, desafogados, são mais confortáveis e não implicam um maior consumo energético por terem mais ar para aquecer, o objectivo da casa sustentável é que pelas  estratégias bioclimáticas adoptadas, necessite apenas de ser aquecida pontualmente e pela ventilação natural não necessite de sistemas mecânicos de arrefecimento. Para tirar mais partido de esta solução optamos por implementar grelhas de ventilação natural nos topos da cobertura de cada volume e nas caixilharias das janelas, intensificando a ventilação natural, na estação de arrefecimento, o ar quente sobe e é extraído naturalmente pelo ponto mais alto, no inverno estás grelhas permanecem fechadas de forma a não se perder o ar quente, porém as grelhas das janelas permanecem activas permitindo a renovação do ar durante todas as estações. ( aberturas auto-reguladas certificadas )
Os volumes de pendentes inclinadas, separados entre si, permitiram implantar um sistema de recolha de água das chuvas. O sistema consiste numa caleira oculta na intersecção dos volumes que conduzem as águas da chuva por tubagens entre as paredes que separam os volumes, conduzindo a água a uma cisterna enterrada que à posteriori é bombeada por uma rede independente para as descargas sanitárias e pontos de rega no exterior.
Todos os volumes são em betão armado, isolados pelo exterior e revestidos com vigas de madeira recicladas. As linhas de comboio desactivadas no norte do pais têm vindo a ser reconvertidas em ecopistas para actividades de lazer, como passeios a pé e de bicicleta, as vigas de madeira retiradas, após tratadas e rectificadas,  podem ser utilizadas como revestimento, não existe melhor construção sustentável do que a utilização de materiais reciclados.
O isolamento continuo pelo exterior e betão pelo interior garante a eliminação de todas as pontes térmicas, que causam o aparecimento de condensações e, consequentemente, de fungos em paredes interiores e garante a inércia térmica do betão em contacto com o ambiente interior para condicionar as temperaturas tendo em vista o binómio energia-conforto. O isolamento térmico, aplicado de forma contínua e pelo exterior, faz com que a inércia térmica dos materiais pesados utilizados na construção funcione a favor do clima interior, contribuindo para que as temperaturas no edifício se mantenham estáveis e dentro das amplitudes térmicas médias do nosso clima.
Os  volumes principais estão orientados de forma a privilegiarem das vista de mar, a poente, sul e norte. Os espaços de maior permanência, as zonas sócias da habitação foram dispostos a sul e poente, os quartos para usufruírem de vista de mar estão orientados a poente e norte. A nascente estão voltados os acessos à habitação. Os vãos foram calculados de forma a existir um equilíbrio entre ganhos e perdas, nas fachadas orientadas a sul, os vãos são maiores, nas fachadas a poente mais controladas e a norte mais fechadas. As caixilharias são de controle térmico, com aberturas auto-reguladas certificadas.
Os sombreamentos exteriores dos vãos, são feitos por sistema de lâminas horizontais orientáveis, permitindo reflectir os raios solares não desejados e ao mesmo tempo usufruir da vista de mar. O sistema permite controlar também o nível de luminosidade que se pretende admitir para o interior da habitação, facilitando a criação de uma diversidade de atmosferas.  Nas estufas o sistema é diferente, utilizou-se um sistema de lonas black-out integradas na própria caixilharia, podendo-se encerrar completamente a parte superior, funcionando no verão como um alpendre. As portas de vidro dos pátios não têm qualquer protecção, na estação de aquecimento permanecem fechados e na estação de arrefecimento abertos.
O edifício foi projectado de forma a não necessitar de sistemas de arrefecimentos mecânicos, mas na estação de aquecimento poderá ser necessário pontualmente ter alguma fonte de calor, quando os meios passivos não consigam por si só climatizar toda a casa, nesses momentos e derivado ao local onde se insere a casa, rodeado de pequenos bosques pensamos em utilizar sistemas de aquecimento a biomassa,

Project details

 

 

 

 

  • Location | Moledo | Portugal
  • Architects | ângela frias e gonçalo dias
  • Project Year | 2009
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