Piscinas da Marinha Grande

Piscinas da Marinha Grande

 

A questão da identidade

As cidades, hoje e cada vez mais, evoluem de uma forma idêntica e global, em crescente homogeneização. As culturas tradicionais e regionais tendem a diluir-se entre as novas construções que preenchem a malha urbana. Não ignoramos esse facto e essa tendência natural, que a cultura localizada perca naturalmente as suas forças, e cada vez faça mais parte do plano da história e das memórias. Porém o crescimento das cidades pode ser pautado por novos elementos de referência identitária da cidade. A proposta pretende criar um edifício público que não seja indiferente a quem passe por ele. Situado numa das portas da cidade, o edifício pretende atrair olhares pela sua forma e plasticidade. Este equipamento é o ultimo edifício a ser projectado para o complexo desportivo. Tem a oportunidade de se poder tornar um elemento dinamizador, uma nova parcela de identidade do local.

 

A forma e o lugar

O complexo desportivo é envolvido por uma paisagem dispersa, desordenada, desregrada e sem escala. A morfologia do edifício afirmar-se-á no local, contrariando a imagem do edificado que o rodeia. Apresenta uma geometria simples e depurada, apenas com uma reentrância para optimizar a marcação da entrada. A sua linguagem é minimal, não distrai, realça apenas o que se pretende que transpareça para o exterior. Em cada alçado surge uma longa abertura que permitirá o toque visual entre o exterior e o interior. Na relação do edifício, do interior para o exterior aplica-se outro conceito: o exterior está omnipresente através de pequenas perfurações redondas na pele que o reveste, oferecendo uma linguagem distinta e contemporânea. Os pequenos óculos servem também para a iluminação pontual dos espaços internos, sem que se perca a noção de privacidade num espaço que, pelas suas características de utilização, a necessita. As aberturas do edifício têm papeis de interpretação próprios e distintos. Pretendem ter um carácter forte e cénico. São como ecrãs, permitindo ver relances da vida e utilização interna do edifício. O edifício procura na sua forma e implantação adaptar-se ao desenho paisagístico do complexo e da sua envolvente. Mantém a mesma lógica de implantação dos outros espaços não ocupando na sua totalidade o seu lote, deixando uma moldura livre à sua volta.

 

da organização á função

A primeira ideia surgiu ao serem exigidas janelas subaquáticas. Esta condicionante levou-nos de imediato a pensar em não enterrar as piscinas para que as janelas possam ocupar um lugar cénico nos espaços de circulação. Projectamos um corpo técnico onde se localizam as piscinas que inevitavelmente foram o principal organizador do espaço, a sua alma, onde todas as restantes áreas se desenvolvem obrigatoriamente em torno do palco principal. Subdividimos o espaço funcional em três partes. A primeira, dedicada aos utentes, a segunda aos visitantes, e uma terceira destinada aos funcionários do equipamento. A função primária de cada um destes espaços vai condicionar o desenvolvimento do restante desenho. Criamos um volume para albergar as salas destinadas aos utentes, outro reservado ás diversas funções ocupadas pelos funcionários e um terceiro para a recepção, que compreende os pontos exigidos pelo programa para este espaço: secretaria, administração, casas de banho públicas e as salas multiusos de acesso condicionado aos utentes. Cada volume tem dois pisos. No piso inferior são organizados os espaços que não estão necessariamente ligados ás piscinas e no piso superior aqueles que dependem estritamente da sua utilização. Assim, os percursos tornam-se intuitivos, serão memorizados pelos seus utilizadores, de uma forma lógica e coerente. A disposição dos volumes foi pensada para orientar os três tipo de utilizadores do equipamento: utentes, visitantes e funcionários. Desta forma os visitantes, a partir da entrada, podem obter as diversas informações no balcão de atendimento e subir para as bancadas ou bar. Os utentes depois de entrarem passam pelo volume da recepção, onde existirá um controle pelo balcão da secretaria, sobem para os balneários ou dirigem-se para a área de actividades físicas complementares (ginástica, fitness e SPA). Neste existem balneários distintos dos das piscinas. As salas multiusos localizam-se junto à secretaria anexando-se ao volume da recepção facilitando o seu controle. Os funcionários a partir da área da entrada fazem um percurso oposto ao dos utentes. O volume para eles destinado encontra-se no lado oposto das piscinas. Dividem-se assim de forma clara os espaços destinados aos três grupos de utilizadores. Com esta estratégia de organização conseguimos criar zonas lúdicas de convívio e de acontecimentos nos espaços resultantes, nas zonas de circulação. Para além do foyer da entrada, passamos a ter outros com momentos próprios e com funções especificas. Os espaços de percurso internos transformam-se em zonas de estar, estudo ou trabalho, tornando o seu carácter formal ambivalente, e passível de diversificadas utilizações. As comunicações aos pisos superiores foram estudadas para coincidirem com esses foyers secundários, locais estratégicos de distribuição. Os planos inclinados da entrada, permitem a sua evidenciação pelo exterior como vão proporcionar um suporte estrutural para a bancada de espectadores do piso superior. A sua forma transforma-se assim em função. Esta bancada está directamente ligada às comunicações verticais e ao bar. Esta relação condiciona o seu uso e facilita a apropriação do espaços pelos visitantes. Um espaço com características de visionamento de provas poderá, assim, tornar-se num novo espaço de encontro, lazer ou até reunião. O bar possui um acesso próprio ao piso inferior, mantendo uma ligação ao outro foyer ligado à zona de utentes. Desta forma conseguimos cumprir 100% do programa pedido, relativamente às ligações das piscinas com os restantes espaços. As bancadas e o bar fazem a frente de plateia para a piscina. Nos limites laterais, teremos o volume dos balneários, junto ao bar a piscinas das crianças e no lado oposto, junto às bancadas e piscinas de competição. O volume dos funcionários, é composto pela sala de vigilância, sala de provas dos árbitros, sala de apoio à competição, gabinete médico e primeiros socorros.

 

Linguagem

Adoptar uma linguagem de excepção é sempre um processo delicado. A forma mistura-se com a vontade e ambas produzem marcos. Edifícios memoráveis que capacitam a identidade de determinados locais. Neste caso em particular, a necessidade de dotar este espaço de uma forma singular e identificável, vai ajudar o processo de consolidação urbana não só desta zona periférica inter-concelhia, mas irá também, potenciar o crescimento e aceitação pública deste concelho. Os materiais utilizados, sem cair na monótona repetição que uma séria de edifícios públicos, construídos na última década têm provocado, vai auferir ao espaço urbano uma plasticidade necessária e quase nunca associada a equipamentos deste carácter. As opções formais de construção revelam um cuidado especial pela gestão dos fundos disponíveis, minimizando o seu custo ao limite, com soluções práticas, duráveis e de mínima manutenção. A organização interna do espaço vai revelar uma coerente apropriação do mesmo por parte dos utentes, técnicos e visitantes, deixando uma impressão duradoura de qualidade do equipamento. Seja durante a realização de competições, agora com potencial internacional, seja na utilização diária dos residentes do concelho. Numa área antes negligenciada ou esquecida e que tem tido um crescimento lento e disperso vai ser potencializado todo um novo complexo desportivo com carácter de vila desportiva, muito ao estilo olímpico. O novo edifício vai então ser o novo sopro, o novo bater de coração de uma área com um potencial enorme, a explorar, a marcar, a visitar.

Project details

 

 

 

 

  • Location | Marinha Grande
  • Architects | ângela frias e gonçalo dias
  • Project Year | 2008
  • Cliente | Câmara Municipal da Marinha Grande
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